O grande jogo do poder
Triste, muito triste o que presenciamos anteontem, dia 17 de abril de 2016, na Câmara dos Deputados. A admissibilidade da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Vana Rousseff (PT), apesar de previsível e nada surpreendente, é lamentável e desanimador para todos nós, brasileiros e brasileiras.
Mais um representante-mor da Nação está prestes a ser defenestrado do Palácio do Planalto, via processo constitucional de impedimento. SIM! CONS-TI-TU-CI-O-NAL. Quer queira, quer não, o impeachment está previsto na Carta Magna do Brasil e pode ser utilizado para abreviar um mandato presidencial.
Sabe o que tudo isso significa, meu caro(a)? Significa que todos os que se dizem representantes do povo, dentre eles os tais vereadores, deputados, prefeitos, governadores, presidentes, na verdade são representantes única e exclusivamente do poder e do dinheiro, sobretudo os que disseram SIM e NÃO ao impeachment da presidente.
Quem tem o poder nas mãos sempre quer tê-lo por mais tempo; e quem não o tem, quer conquistá-lo a qualquer custo, nem que para isso tenha de vender a própria alma, a decência e a essência da democracia. Aliás, democracia é tratada por aqui como um mero instrumento facilitador do funcionamento de um sistema político putrefato. E funciona da seguinte forma: o povo, cego e com audição aguda para captar, assimilar e acatar qualquer “verdade” criada por marqueteiros e vomitada pelos políticos ávidos pelo poder, avaliza tudo o que nos é imposto.
O que vimos anteontem é triste, lamentável e desanimador, justamente por tudo o que expressei nos parágrafos acima. O circo armado no Congresso deixou claro, mais uma vez, que somos representados por ninguém. Ou sua voz estava lá?
Agora, me responda, sinceramente: o que você ganhará com o impeachment? E, o principal, o que você ganharia se o processo fosse barrado?
Não sejamos inocentes. Todo o discurso enfadonho de ambos os lados serve somente para legitimar um jogo do qual não jogamos. Situação e oposição têm a mesma força nesse jogo e cada um tem o mesmo interesse: o PODER. A presidente detém a máquina; a oposição dispõe de artifícios constitucionais, como o impeachment. Cada ator dessa peça política tem força suficiente para lutar. O grande segredo nessa contenda, em toda jogada, ou melhor, cartada, é o TEMPO. A oposição soube aproveitá-lo bem, por isso está ganhando as partidas. A situação subestimou a força dos parlamentares, demorou para agir e, quando (re)agiu, escorregou e perdeu ainda mais tempo. Óbvio que o impeachment se aproxima e, provavelmente, virá.
Tudo não passa do grande jogo do poder, possível graças a um sistema político que, para nós, meros mortais e anônimos, não nos interessa.
A ladainha do golpe é estratégia ridícula de um lado; crime de responsabilidade e fim da corrupção também é estratégia ridícula do outro. E o posicionamento do “novas eleições”, ação que vale a pena pensar de novo, é um tanto quanto uma estratégia delicada, vinda de uma terceira via representada por Marina Silva. Todas as opções descritas estão por aí, borbulhando, causando frisson na sociedade, contudo, sem eficácia. Se o sistema não cair, nada será permanente; nada será verdade; e continuaremos a apenas legitimar governos e mais governos, observando de longe o jogo do qual não jogamos, sem acesso ao poder do qual temos direito.
Todas as opções, para nós, povo, são paliativas. Que não nos falte força para lutar pela mudança verdadeira. Continuemos a nos manifestar, a ir às ruas, mas para exigirmos a reforma política. Um novo sistema!
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